sábado, 19 de dezembro de 2015

Troia-Sagres, a ressaca

 Normalmente após uma grande estopada como o Tróia-Sagres, a sensação de dever cumprido, o cansaço e o desgaste\fadiga natural de quem se mete nestas andanças, causam uma ressaca que por vezes é dificil de digerir.
  O sentimento habitual é o da falta de vontade para voltar a assentar o pedaço de carne mole no selim. Uma ou duas semanas podem ser as necessárias até querer-se carregar novamente na talega e pedalar toda a manhã.

   No meu caso, desta vez, a ressaca durou apenas o resto do dia.
   No domingo ao acordar, estava fresquifofo, e cheio de ganas. Na segunda a mesmissima coisa, terça idem e por aí fora.
 
   Em suma, esta ida a Sagres não me desgastou, se bem que tenha acabado de lingua de fora.
   Apenas e só fazer cuidados com umas mazelas e siga para a estrada que a semana foi feita de três treinos curtos.

 

domingo, 13 de dezembro de 2015

Tróia - Sagres 2015

 Ao iniciar estas linhas, estou na dúvida se opto por descrever o dia por um estilo mais evolvente e romântico ou se meramente desportivo.
 A melhor maneira é deixar fluir.

 E porque o começo é sempre no principio, nada melhor do que as palavras de quem "começou" este movimento. Sim porque o Tróia-Sagres já só pode ser considerado assim mesmo: um movimento!
 Então diz Malvar:

  “Nunca tinha visto uma coisa assim”... “ultrapassou em muito os 5.000” participantes"....

  E no sábado começou às 4:45h da manhã quando depois de pouco mais de um par de horas dormidas o despertador tocou.
  Perto das 06:00h da manhã, ainda noite cerrada, dá para começar a sentir o pulsar de tudo o que este dia significa.
  Não há taças nem troféus. Não há linha de partida, nem tiro de partida, nem partida.
  O barco apita. Está cheio. Carros, autocarros, carrinhas, ciclistas por todo o lado. O Ferry não leva nem mais um capacete. Alguns já não cabem. Têm que esperar o próximo. Por um par de luvas esquecido (já abandonando o meu veiculo de apoio) falho o embarque.
  Fico dentro do carro uma hora à espera da próxima embarcação.
  A zona de acesso ao próximo Ferry volta a encher. É a segunda leva para os que partem de Setúbal. Muitos são os que se juntam do lado de lá.

   Dentro do barco, acotovelam-se conversas para amenizar o frio. Não que a manhã esteja propriamente invernosa. Nada disso. Em Dezembro seria impossivel pedir melhor. Se calhar, o frio é do nervosismo ou da excitação, ou de ambos.
  Dentro do carro vou observando enquanto mastigo um reforço do pequeno-almoço. Consigo ouvir os mais exuberantes. Consigo ouvir os mais apreensivos que nada dizem e pensam na sua sorte para as próximas horas.
   O desembarque faz-se rápido. As bermas da estrada estão cheias. Não há meio metro vago. Ciclistas e mais ciclistas trocam o transporte motorizado pelo seu veiculo a pedal. Parecem caracóis a sair para a estrada numa manhã fresca de orvalho na Primavera. Milhares!

   Já não é noite. Gosto de partir de noite. Mas quem vem no segundo barco já não vê quão bonita fica a peninsula iluminada a pequenas luzes encarnadas intermitentes e intermináveis até perder de vista. é uma visão que se dilui quando apenas e só o Sol decide raiar por cima dos campos de arroz da Comporta e reflectir o seu esplendor nas poucas nuvens lá no alto.
  Na agitação dos que vêm e dos que já lá vão, formam-se grupos. Enxames enormes rumam para o Sul. Pelo meio vão indo lentamente viaturas de apoio. A imagem é a de uma corrente sanguinea com todos os seu elementos. É sangue que corre não nas veias, mas pelas vias que vão dar até Sagres.

   As conversa vão-se silenciando. O som mudo dos carretos é tão belo e agradável quanto a surdez que tudo em redor não se escuta. Nada se escuta. Nada se ouve.
 
   Não é uma corrida.
   O sentimento que se sente é dificil de se fazer sentir para quem não participe. É uma comunhão. É um ideal, uma forma de estar. Não se olha para o lado a ver quem é o mais forte, quem dá mais, quem desiste. Sozinho no seu mundo ou em partilha, são glóbulos brancos, vermelhos, plaquetas sanguineas que seguem todas na mesma direcção, pela mesma artéria. Não competem, não se olham, seguem apenas como que movidas e orientadas por uma forma maior, externa, que os comanda dando-lhes liberdade de seguir...

   A cada povoado, assomam as suas gentes à principal via para verem passar este movimento. Poderão ficar nisto o dia todo. Batem palmas, incentivam. Alguns não compreendem e não conseguem disfarçar a incógnitiva inquietude que lhes salta dos olhos e dos corpos imóveis nas bermas da estrada. Parecem sinais de trânsito.
   O movimento continua. Não dá tréguas. Não pára nunca. Os cafés de beira de estrada enchem com a mesma velocidade que esvaziam. Vezes sem conta. Poderá ser o melhor dia de negócio do ano. Afinal "os mais de 5.000" (nas contas de Malvar) sempre comem e bebem.

   Aos poucos e poucos o objectivo, aquele destino bem para lá do imaginável de muitos que há horas atrás encetaram tamanha odisseia, vai-se aproximando. Sagres já não é uma miragem.
  As forças vão faltando. É visivel nos rostos mais sofriveis. O destino reservou mais uma adenda. O vento. Tamanha profecia que lançou caravelas por terras D´além mar, trás no seu sopro a vontade de provocar o ultimo sopro sofrego de quem já naufragou antes de aqui chegar.
  Cansados mas casmurros, ou fortes e vigorosos, nenhum destes marinheiros deixa-se mais incomodar. É mais depressa ou mais devagar. Ninguém vai parar. Agora já ninguém vai parar.
 
   Lá ao fundo os telhados amontoam-se e por detrás o mar! São os últimos momentos. O brilho nos olhos de quem está para acabar ofusca tudo em redor. Agora é acabar.

    “Pelotões e pelotões de ciclistas, alguns maiores do que o da Volta a Portugal”

    
    No fim ninguém chegou primeiro, ninguém chegou em último. Leva-nos apenas a pensar quantos ficaram com o sonho por realizar, com que sofrimento, com que dor.
    Que leva tantos bem ou mal preparados a tamanha epopeia? com que sacrificio? Mas depois de tudo terminar, precisamente no minuto seguinte, nada disso se sente.
   Abraçam-se amigos que se vêm todos os dias. Abraçam-se amigos que não são de abraçar. Abraçam-se amigos que há anos não trocavam um abraçar. Abraçam-se amigos que não são amigos que deram um um abraço de abraçar.
   O abraço ao terminar é o maior de todos os sentimentos.  É senti-lo e ao fundo ver o rochedo que entra pelo mar. É tão forte como ele, capaz de aguentar o mar sem tréguas dia após dia fustigar, castigar, rebentar, sem nunca o rochedo derrubar. O abraço ao terminar é o maior de todos os sentimentos. É a fortaleza em cima do rochedo. É Sagres. É o Tróia-Sagres
   Um O Tróia-Sagres é um fenómeno sem igual. Não há evento maior. Sem palavras, somente sensorial.





Dedicado a todos os que em determinado momento, sentiram aquele sofrimento que só sente quem sofre mas que acima de tudo, são recompensados pela felicidade de ter sofrido!



domingo, 6 de dezembro de 2015

A conter forças

  A contar os dias, a conter as forças.
  É mais ou menos assim que se vão vivendo estes dias de quem tenciona participar no Tróia-Sagres.
  Não, ainda não é hoje que venho declamar uma poesia descritiva deste dia em que gentes de toda a parte rumam a terras que sabem a férias.
 
   Não é que treine expecificamente para o evento, mas também não se pode deixar de fazer uma preparação, principalmente que diga respeito ao descanso que a antecede. Aliás como ainda recentemente disse:

   "uma coisa que aprendi com o Troia-Sagres:
não guardes para o Troia-Sagres aquilo que podes pedalar no fim-de-semana antes. Imagina que chove no dia da prova e depois nem pedalaste num dia nem noutro!"

   Vai daí ontem a volta foi mais curta e mais suave, sem esticões, somente a rolar. Mas não foi fácil controlar aquele impeto que de quando em vez aparecia e queria arruinar a táctica e as conversas do grupo, um trio animado.
    Hoje fico a ver por entre o nevoeiro e a próxima semana é feita de volta curta no feriado e aula curta na 5ª feira.