Não sendo ciclista profissional (nem sei se amador, não me vão lá confundir com os atletas que militam pelas equipas portuguesas e que disputam os nacionais e outros troféus adjacentes ao rectângulo luso), não tenho passaporte biológico nem tão pouco que divulgar onde estou, para onde vou.
Mas posso e revelo que estou em estágio de pré-época (isto assim já soa a profissional ou até amador).
Prólogo: Não há nada do que acordar com a Mãe Natureza. Ouvir os passarinhos, sentir o ar do campo que a esta hora só cheira a chá, ultrapassar uma caravana enorme de romeiros nas suas belas fatiotas e carruagens que rumam à cidade para as festas da terra. Vai nisto e o gps acusa falta de carga. Ora pois claro. Se no sábado passado desligara-se por total ausência de carga, ter conseguido ligá-lo foi só por si surpreendente depois de me relembrar que não o colocara a beber da fonte. Teria portanto uns segundos de vida, algo só possivel porque chupou o que pode enquanto o liguei ao pc para upload do track.
Com isto significava que iria provavelmente andar perdido algures no meio do Alentejo. Resolvi desligá-lo e assim poupar os poucos segundos de bateria para os momentos mais fulcrais.
E assim foi um liga-desliga, liga-desliga que me safou de andar aos cucos.
Dia dos esticões*
Ele há treinos de séries e outros e essas coisas assim. Este foi um dia sem ser progamado mas que me ofereceu uns esticões* para ir desenferrujando as pernas.
Esticão* 1: O acordar do monstro
Ora (...) ouvir os passarinhos, sentir o ar do campo, a Mãe Natureza (...) e de repente passa um compadre por mim que parecia eu que estava parado. Agora sim acordei. O ritmo era bastante mais elevado e pensei "Ainda não tenho pernas para isto mas e porque não só um pouco?" Pelo menos por uns minutos. Siga.
Esticão* 2: A verdadeira utilidade da cauda das vacas
Virando para uma estrada ainda mais secundária, esta provavelmente da pré-primária ou mesmo ainda do infantário, fina, fina, de um alcatrão clarinho, a fazer lembrar aquelas que sobem Itália adentro, vejo-me rodeado por uma enorme vastidão de terra de gado. Nem vivalma e nem sequer o gado e só eu e a minha estrada a rasgar esta paisagem amarela e castanha pelo meio. Na terra circundante pisada e repisada com pasto rapado, restos da alimentação da ganadaria rominante, jaziam enormes bostas negras e pouco mais.
De repente a estrada inclina e enquanto vou bebericando do todo deste cenário, a cadência diminui gradualmente sem que me aperceba.
Vai nisto e sou cercado por um autêntico "rebanho" não do gado ausente mas sim de insectos. Era a única presa num raio largo de km, um autêntico oásis para estes parasitas. A cauda da vaca fazia-me falta e na falta dela não me restou solução senão pedalar por ali acima, fugir quanto antes. Nota: trocar o protector solar por um repelente. ou quem sabe um belo dois em um aqui em potência, não?
Esticão 3* As metas volantes.
Aqui e ali apareciam-me pela frente uns pequenos povoados. Nada de mais do que meia dúzia de aglomerado de casas com um largo ou praça no meio e uns bancos de jardim à beira de estrada com os respectivos velhotes, suas boinas e cajados. Para alegrar as suas pacatas manhãs, na vaidozidade do meu ser, brindei-os com umas passagens velozes, tipo meta volante.
Sei que gostaram!
E no fim, um ulimo esforço final, aquela subida até ao nó que mal se nota mas que mói. Que o diga uma azia e um joelho à uns meses atrás!
Isto não vai assim tão mal como pensava mas vamos um passo de cada vez. Maravilhosa manhã de Sol no meu maravilhoso Alentejo.
*esticões: nada de pensar em coisas brutas ou esforços loucos. Apenas um aumentar de força no pedal e pouco mais.
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