Ainda sobre o estágio.
São 3 ou 4 dias a pedalar. São dias duros? são. As voltas são longas por maioria e trazem consigo altimetrias sempre elevadas, adornadas aqui e ali por inclinações mais severas.
A componente física é assim trabalhada duramente pelo endurance. Não há grandes loucuras de ritmo como numa prova (a descer somente...) mas também não é sequer perto de cicloturismo. Não é fácil. Há que saber aguentar, saber gerir.
Se pensarmos que este não é um registo habitual ao longo do ano (3 treinos seguidos de longa duração e altimetria considerável), equaciono a realidade dos benefícios.no que ao ganho de forma diz respeito.
Mas para mim, os benefícios vêm de tudo o resto: as subidas longas aprazem-me, a paisagem encanta, o ar puro preenche, o pouco movimento de pessoas e carros torna as estradas delciiosamente circuláveis.
Depois vem ainda a adrenalina: a adrenalina de cada descida, cada uma de seu tipo; a adrenalina de cada subida, cada uma um desafio; a adrenalina de mais um treino duro realizado. A adrenalina da incerteza metereológica onde tudo pode ser encontrado. De ventos fortes com rajadas, frio ou temperaturas elevadas, pode-se apanha de tudo em dias diferentes ou no mesmo dia.
E por último, é sempre aquele condimento especial que é chegar-se ao topo mais alto do país. Faça-se quantas vezes se faça, mas sempre que lá se chega, o sentimento é igual. O misticismo daquele marco circundado pela estrada não tem igual.
Este ano foi visitá-lo por três vezes. Em cada dia houve lugar a marcar presença.
Até lá chegar, viaja-se por um mundo de pensamentos compostos ou vazios. Revisita-se a vida, sentem-se estados de alma, por vezes até um vazio de alma. Talvez esta das melhores sensações que posso experenciar nas horas a fio subindo serra acima,
Acima de tudo é isto o melhor que se pode retirar de cada momento, seja ele do que for. Para mim, a Estrela é precisamente isso, como uma estrela, linda, reluzente, brilhante, lá no alto, e que nos faz sonhar durante a viagem até si.
Fica sempre uma vontade enorme de voltar.
relatos caseiros e feitos à mão sobre maratonas, raids, passeios, provas e outras voltas em BTT, Ciclismo e tudo mais.
sexta-feira, 27 de junho de 2025
na Estrela ou constróis ou....
domingo, 15 de junho de 2025
Estágio Serra Estrela 2025
Ciclismo
07,08,09 e 10 de junho
Chegada aquela altura do ano em que rumo com a equipa para a serra mais alta de Portugal.
Viagem no sábado de manhã para reunir com os que já lá estão. Este ano foi um autêntico entra e sai. Uns foram mais tarde, outros vieram mais cedo, outros ficaram o tempo todo.
Acomodações maravilha, refeições e snacks na sacola, roupinha para o quente e para o frio, tal como o equipamento de ciclismo porque apesar das boas previsões metereológicas, isto na serra nunca se sabe. E claro, a bicicleta pronta, com direito a lavagem e travões novos.
Mas no saco trazia uma preocupação adicional, uma que já me lixara uma vez precisamente este estágio, uma que de quando em vez aparece: o exmo. sr. dr. joelho direito.
Foram duas semanas a tratamento pessoal a ver ficava pelo menos seguro por pontas, embora nem isso parecesse.
No saco levava a ambição de pelo menos conseguir pedalar um dia inteiro e depois logo se via.
Dia 1 - domingo
A malta já trazia um dia nas pernas e afinal não tão curto quanto isso. No programa, entre outras subidas e descidas, estava guardado para o fim algo que faltava no meu currículo: a subida da Covilhã até à Torre (esta mesma que me escapou num ano em que o joelho não quis...).
Uma subida que conhecia bem (de carro) e já feita no sentido inverso, ou seja, uma descida que conheço bem, mas que nem assim deixou de surpreender pela dureza inicial.
Os 40 graus que se faziam sentir também não ajudaram mas havia que pedalar. Passado o primeiro terço e parte do segundo, a gerir os bidons e o suor a pingar do capacete, foi colocar ritmo serra acima. Perto do final, umas caimbras fizeram-me gritar de tal forma que se deve ter ouvido em todo o Vale Glaciar. Coloquei o pé no chão, respirei fundo e superando as dores em asgar de sofrimento, pedalei até que não as sentisse mais. Aqui estava a paga da sudação, do calor do dia e da dureza inicial da subida.
O grupo foi-se partindo e espalhando por toda a estrada e só no cume haveria lugar a reunir as tropas. Enquanto esperava, bebi perto de um litrinho de água.
A descida para o lado de Seia fez-se com naturalidade e muita velocidade.
À chegada, retemperar o estomago e hidratar bem (sopa, comida caseira e àgua com fartura) e colocar o corpo de molho na piscina.
sim, nem mesmo lá em cima havia neve. Mas havia uma praga de insectos que não permitia abrir a boca sequer. Milhares! Sim, milhares!!
Dia 2 - segunda-feira
Partira um de véspera, hoje partia outro, chegavam dois com sangue fresco e muita gana.
Mais uma volta, desta vez com menos km (consegui convencer os recém-chegados a guardarem cartuchos para o dia seguinte, isto porque outros já haviam decidido fazer algo mais curto).
O menu trazia a Sra. do Desterro, outra bela subida com ida até à Torre...outra vez.
Mas antes disso houve que visitar a loja da especialidade ainda antes de iniciarmos: uns travões de disco que foram limpos com produto inadequado e um pneu (meu) que ficou nas lonas na véspera, precisaram de cuidados.
Acusei algum desgaste do dia anterior e um ventinho norte a caminho da barragem grande, ajudava a quebrar o andamento.
A descida fez-se sem grandes aventuras que o material estava a ser testado.
A tarde reservou novamente confortar a barriguinha com paparoca e as pernas com aguazinha fresquinha.
Dia 3 - terça-feira
Mais uma grande epopeia reservada para este dia.
O joelho ia aguentando (apesar de na cabeça residir sempre a dúvida de até quando poderia aguentar), e as pernas pareciam hoje melhores, após finalmente ter uma noite de sono em condições (as duas anteriores foram muito mas muito mal dormidas).
O sterrato era o prato forte do dia. Não é mais que uma pequena tirada em terra batida numa estrada secundária que vem de Unhais da Serra.
Mas pequena não era a volta nem a subida que nos levaria novamente... ao alto da serra.
As sensações não estavam más na primeira fase, mas foi quando começou a subida à séria que as pernas se soltaram e em ritmo controlado, sem forçar, foi sempre a andar.
O pior estava guardado para a descida. Vento forte e com rajadas sacudiam-me ou empurravam-me para fora de mão (felizmente os carros que vinham e iam, tiveram cuidados) e para fora da estrada. Cheguei mesmo a ter que parar para não ir ao chão. Não estava fácil e foi devagar que se fez a parte inicial até à grande lagoa. Depois aliviou um pouco. Este esqueleto leve não se dá bem para asa delta...
As malas estavam feitas e após um banho rápido e preparos de viagem, fiz-me à estrada para regresso à vidinha do dia a dia que no dia seguinte já se trabalhava.
Belos dias, pernas firmes e fortes para subir, o joelho aguentou.
Muita sandocha de presunto e queijo da serra e de carne assada com uns sumos a acompanhar. Muitos bidons de água.
De estupefacientes apenas electrólitos num bidon e o gel patrocinador da equipa, porque ja nao tinha mais nada no bolso para comer e deu aquela fomeca.
Os pequenos-almoços, lanches e jantares tudo com comida de gente normal.
Este é o relato técnico. Em breve, o relato poético.