sábado, 22 de outubro de 2022

O que se passa com as provas de BTT?

  Não é de hoje.
  Faz meses (anos) que algo não bate certo. Ou será que bate?
  De que falo? Respondo sem mais perguntas.
  Se por um lado as provas de ciclismo de estrada (Granfondo´s e outras que tais) vão proliferando de norte a sul do país, com adesão maciça dos amantes da modalidade, por outro lado as provas de BTT são cada vez menos tal como quem nelas participa.
   Provavelmente uma dezena ou mais de pontos, explicam este fenómeno. A grande questão é saber se é passageiro e se há volta a dar até aos "tempos gloriosos".

  ponto 1º
  Ciclismo está na moda, BTT já não.
  Verdade ou mentira? Há uma década atrás era notório o "tráfego" em qualquer recanto com dois palmos de terra batida e natureza circundante. Hoje são as estradas de alcatrão onde vingam as pedaladas dos amantes das duas rodas.
  Como em tudo na vida, somos de modas. Estas vêm e vão como as ondas do mar. 
  Mas há algo (ou alguém) que dita as modas. Quer seja o marketing (esse bicho papão que coloca o mundo comercial em guerra entre si) ou quer seja o mediatismo que recentemente os profissionais do ramo (Rui Costa, Nelson Oliveira, Tiago Machado, Sérgio Paulinho, entre outros) deram ao ciclismo, esta modalidade está em altas. Veja-se que até a Eurosport transmite não só as grandes voltas (e em alguns casos transmite as etapas deste o km zero), mas até as provas que nunca ninguém seguia ou sabia sequer que existiam.
 
  ponto 2º
  A tradição voltou a ser o que era.
  BTT é um irmão muito recente do ciclismo, esse sim o primogénito que quase foi rei do desporto em Portugal, não fosse o futebol.
   Com o revivalismo tanto na moda em tanta coisa, pode ter sido desenraizada mais esta "moda". Portanto muitos poderão ter ido provar a moda das bicicletas todo o terreno mas logo terão regressado ao piso mais duro.
   Ciclismo de estrada é sinónimo de tradição no país. Facto! 

   ponto 3º
  O factor Nel Monteiro
  Toda a gente o conhece e toda a gente sabe um pouco da letra da música, nem que seja só o refrão. Com efeito, a musica do Nelinho "Azar na praia" pode retratar mais um dos motivos que levou a que muitos abandonassem precocemente (ou não) o BTT.
  Azares, muitos azares, vários azares por esses trilhos fora escondem-se à espreita prontos para vitimar os mais incautos. Fim-de-semana sim, fim-de-semana sim, era ver ambulâncias a afoitarem-se por caminhos de cabras em assistência aos que caiam de maduros das suas montadas.
   E aqui convém analisar o que é a fruta madura: isto das modas não é para todos, mas tal como a mulher que vê o vestido de sonho e força caber-se nele quando o seu corpo está bem mais indicado para lá de outras finuras, assim estava a capacidade de dominar as duas rodas por muitos mal preparados para o efeito. As "barriguinhas grandes" reveladoras da baixa condição física, destreza e outras capacidades recomendadas para o BTT (e não quero com isto generalizar) potenciavam fortemente a possibilidade de terminar a manhã a tirar "fotografias" a preto e branco na unidade hospital mais próxima.
   O BTT tornou-se muito social. Grandes grupos eram sinónimo de amenas cavaqueiras, galhofa e claro, aquela cerveja fresquinha após a volta (curta ou longa que fosse). Ora grupos e conversa trazem desatenção e descontração (e ainda aquela famosa "medição" do tamanho do orgão masculino mas já lá vou), que em trilhos com socalcos, areia, pedras soltas, lama,  entre outros obstáculos eram remédio santo para ir provar o sabor da terra que passa por debaixo das rodas.
  Claro que à primeira ninguém desiste, mas mais uma ou outra vez do mesmo e o abandono é certo (às vezes apenas esperava-se um pretexto para desistir, mas também já lá vou).
 
 ponto 4º
 Falando então do medidor de orgão reprodutor masculino, vulgo "medidor de pichas". Este é dos piores aliados pois transforma qualquer ego amorfo de secretária de 2ª a 6ª feira, no melhor atleta do mundo. 
 Os melhor preparados convidavam para as suas voltas de BTT, todo e qualquer amigo, colega ou familiar, não só por desejarem partilhar aquelas belas manhãs de ar puro do campo, mas também (claro) para mostrarem com um certo vaidosismo as epopeis estoicas que ultrapassavam.
 Assim muniam os convidados dos apetrechos indicados, normalmente material já encostado na garagem e era vê-los com aquela bicicleta mais antiga, o capacete que nem cabia bem na tola, uns tenis da carreira de futsal que nunca aconteceu senão depois dos 40, e panças grandes e refonfudas de quem não pratica exercício desde os tempos em que os espermatozoides só saiam para não fazer filhos.
 E assim se rumava para a volta habitual de fim de semana. só que esta era demasiada para os recém-chegados.
E claro, havia que ir mostrar as subidas mais ingremes dando aqueles bitaites do "isto não custa nada, é só ires devagar" ou " é só esta subida e depois é sempre a direito", e por aí fora.
 Era ver então o colega de escritório ou o cunhado a vomitarem o pequeno-almoço (normalmente nada adequado) literalmente ou quase após os primeiros 10 minutos e a desvanecerem uma hora depois tal carros electricos que perdem a bateria no Canal Caveira a caminho do Algarve.
 Mas o colega de trabalho ou o cunhado só são enganados uma vez. Contarão orgulhosamente essa história na versão deles, gloriosa, para o resto da vida, mas nunca mais sentarão o traseiro no selim de BTT. 

  ponto 5º
   Organizar uma prova sai caro, principalmente se houverem poucos inscritos. Participar numa prova sai caro.
   É deslocação, dormida (se vier de véspera), alimentação, taxa de inscrição, e pouco mais. Tudo somado, já pesa na carteira, principalmente nos dias de hoje.
   Mas lá está: as provas de ciclismo estão cheias com uma milena de participantes e o custo de inscrição chega a ser 3x mais que as de BTT, e estas últimas têm dificuldades em atingir as dezenas, o que pode levar a concluir que este ponto 5º, não tenha muito fundamento.
  Financeiramente falando, no cômputo geral anual, o BTT acaba por ser dispendioso ante o desgaste permanente do material (talvez aqui o ciclismo ganhe um pouco mais, sendo que o material rende mais no tempo).
 
  ponto 6º
 Outros motivos
 A preguiça para o exercício físico! Porque lá está, sair da cama ao sábado ou domingo à mesma hora (ou mais cedo ainda) que se vai trabalhar nos dias úteis da semana, é desencorajador para qualquer sedentário, agravando o calor, o frio, a lama ou a chuva.
  Porque pedalar dói, cansa e desgasta e até chegar a uma condição em que as pernas aguentam, o rabo já assenta no selim como se de um sofá se tratasse, e os pulmões aguentam acompanhar a pedalada do pseudo-hercules do cunhado, há que sofrer e nem todos estão disponiveis para tal, para insistir e vencer essa barreira.
  
   



Com isto tudo, o que se quer são mesmo provas. Mas aqui um parênteses às organizações de eventos:
   O ciclismo tem esse cuidado (pelo menos até ao momento): de regra geral, as provas distanciam-se entre si para não haver coincidências de calendário.
   Já no BTT, só por exemplo, chego a ver 3 e 4 provas no mesmo domingo. 
   Este ponto até nem é grave. Pode haver provas no norte, sul, este e oeste em simultaneo. Mas já vi 3 na mesma região, 2 na mesma cidade, entre outros exemplos.
   Isto divide os participantes e assim ao invés de uma prova com 200 ou 300 inscritos, por exemplo, acabam ambas muito fracas (tendo em conta ainda a habitual divisão dos participantes por distâncias, meia ou maratona, ainda mais reduzido fica). 

   Quem quer assim ir pedalar 40 ou 70 km praticamente sozinho? 
   
Há que haver algum critério e com tanto fim-de-semana no calendário, é mais que certo que chega e sobra para todos.

   Agora mãos à obra, colocar o porco no espeto e siga.