domingo, 11 de dezembro de 2022

10 Dezembro 2022
Ciclismo

 Tróia-Sagres 2022 - da Liberdade, da Igualdade

O dia mais festivo de mobilidade em Portugal

Não é uma prova, não é uma organização, não é um evento. É um desafio de um homem de seu nome Antonio Malvar e que um dia o quis partilhar com o mundo.
E partilhou-o porque vive num país democrático onde a Liberdade é e tem de ser escrita sempre com "L" maiúsculo.
Meu caro António, ninguém de pode impedir de seres livre de dizeres que vais pedalar de Tróia até Sagres no dia 1 ou 2 ou nos 365 dias que o ano tem, e efectivamente ires!
Vives num país que lutou e revolucionou para que tivesses esse direito e que assinala de forma tão importante essa data que tem um feriado para o efeito: 25 Abril.
Um dia pedalaste sozinho. Passados 30 anos vão mais de 5.000 mil contigo.
Aqui não há partidos políticos, clubes, descriminações. Todos iguais e inclusivos mesmo aqueles que apesar da sua mobilidade reduzida seguem em maior epopeia de esforço físico.
Meu caro António, não me espanta portanto que tenhas sido contactado pelas Autoridades para que fosses considerado o "culpado" de todo este dia e de todos os "males" que dele pudessem advir, não deixando contudo de ser curioso o facto de que nunca se falou tanto em dinamizar e incentivar o uso de transportes alternativos aos "petroliferos" como hoje em dia, e este dia que poderia ser utilizado como um exemplo, tornar-se uma "proibição"
- trotinetes e bicicletas eletricas à disposição da população;
- viaturas hibridas ou 100% eletricas;
- uso de transportes públicos;
- construção de ciclovias nas cidades;
- a alteração ao código de estrada, para incentivo ao uso da
bicicleta (já falamos mais adiante)
- outros
Curioso mesmo, não é?
.
Com efeito, as Autoridades, como a própria palavra indica, "autorizam", são autoritárias. Isso faz com que algumas vezes esqueçam a palavra Liberdade.
Mas as Autoridades, especialmente as que tutelam a Segurança Rodoviária, que é o tema que aqui está em causa, não podem esquecer algo muito importante que passou a fazer parte integrante do Código da Estrada, numa revisão recente de 2014: a Igualdade!
Com a alteração ao código, a bicicleta passou a estar equiparada aos restantes veículos a motor.
Felizmente meu caro António, fui livre de pegar na minha bicicleta e na data que me apeteceu, deslocar-me de Tróia a Sagres em bicicleta.
Fi-lo eu e mais uns mil, mais coisa menos coisa.
E ao chegar ao fim, ao pontão de Sagres, lá próximo, tirei uma fotografia de forma inocente mas coincidentemente, atrás de mim, na parede de uma instituição de solidariedade social, tinha bem escrito a palavra Igualdade.
Somos tão iguais quanto somos quando conduzimos todos no Verão, na Páscoa, no Carnaval ou em qualquer ocasião em que bloqueamos autoestradas e estradas nacionais com os nossos veículos a motor.
E tal como aí, as Autoridades, as mesmas que te contactaram, as mesmíssimas que tutelam o mesmíssimo tema, contactaram o responsável pelo turismo do Algarve que nos incentiva todos os anos para disfrutar da região, para impedir tamanho tráfego. Não sabemos...
Mas sabemos que Sagres (Vila do Bispo) é Algarve e este também é um fim de semana que se torna importante economicamente para a localidade ante tamanha procura pela oferta hoteleira e de restauração da localidade, assim como para Município de Aljezur, para a Junta De Freguesia Rogil para Freguesia de OdeceixeFreguesia de São TeotónioSantiago Do Cacém e por aí fora, incluindo a Atlantic Ferries que adaptou os seus serviços à demanda do dia, incluindo mais horários que o habitual.
.
O que sei meu caro Antonio Malvar, é que as Autoridades que estiveram no terreno, a Guarda Nacional Republicana, ao longo destes 200 km, foram extraordinários: cumprimentei-os, trocámos alguns momentos de conversa, felicitei-os pelo cumprimento do seu papel e senti que acima de tudo zelaram por cumprir a sua missão: " A Guarda tem por missão, no âmbito dos sistemas nacionais de segurança e proteção, assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos".
.
Sejamos livres, iguais, sempre! (cumprindo as Leis do Estado de Direito)
(in Facebook)




 Quanto a mim, bom fui a Sagres levar uma constipação mas parece-me que voltou comigo.
 A semana toda (e mais um pouco) constipado, nunca tive boas sensações nas aulas (não treinei "ferro") e a consultar diariamente a metereologia.
 Entretanto acompanhando igualmente a polémica do "cancelado", e a tentar perceber se muitos manteriam a intenção de ir, e muitos como eu  inclusive até com mais vontade de ir que o habitual (caso isso fosse possivel), perante as circunstâncias.
 Na véspera, Windguru, Ipma, Accuweather e sei lá que mais, cada um dava a sua previsão. 
 Estava decidido: despertador para as 05h30 e o olhar pela janela ditaria o desfecho.
 Já desisti de comprar o bilhete de barco antecipadamente (não vale a pena, pq a entrada para o barco é fila única e obrigatóriamente temos que passar na bilheteira) e os preparativos também são simples.
  Desta vez falharam as barras energéticas. Pensava que tinha mas não por isso eram 22h00 e ainda cozinhava as minhas caseirinhas.
  Embarcado pelas 07h30, a actualizar conversa com as caras conhecidas num barco quase cheio. Adivinhava-se que pela "polémica", pela metereologia, pelo futebol mundial às 15h00 da tarde, muitos faltariam.
 Cedo percebi que as forças nao estavam no seu auge e cedo abandonei os grupos que rolavam destemidos. Gerir é muito importante e vejo sempre muita sede de ir ao pote e depois estoiros, mas cada um sabe de si.
  Ainda assim, análise pós, fiz o melhor registo nos primeiros 50 km.
  Clima ameno e céu parcialmente nublado com o sol a espreitar de quando em vez.
  Cedo também apareceram as dores, repartidas entre os joelhos (mais leves), o rabo (incredulamente) e as costas (estas penosas, persistentes e injustificadas).
   Até Mil Fontes, local habitual da primeira paragem, foi um misto de sensações mas já a rezar para que não me quedasse a grandes sofrimentos.
   Alimentação tardia pelo que era impreterivel não cometer mesmo erro daí em diante, algo que viria a tornar-se falso mas por força de males maiores:
   Um acidente grave que bloqueou a estrada perto da Zambujeira e o meu apoio ficou assim retido.
   Alimentei-me de tudo o que levava no bolso ainda na ocasião (uma sandes de manteiga de amendoim numa vez e meia barrita e um gel em outra vez, e o restante de água e bebida isotónica).
   Em Aljezur não estava o apoio e fui seguindo até que quando chegou já perto de Vila do Bispo, declinei. Já não valia a pena e as dores nas costas alimentavam-me quanto bastasse.
   A constipação também não me largou com a volta toda "em sofrimento" do nariz e um pouco da garganta e sempre a ter de forçar vencer uma falta de ritmo natural que nao aparecia.
   Rolei muitas vezes sozinho, algumas em gestão, outras tentando colocar ritmo.
   Na parte final, apanhei um grupo que não larguei mais para me arrastar até Sagres, tendo ainda dado um esticão com o colega Tinoni e feito a subida a solo.

      


O que foi ao lume:
   Até Mil Fontes - 1 sandes de nutela+manteiga de amendoim, 1 barra energética caseira, 1 bidon de água, 1 bidon de isotónico Isostar
  Em Mil Fontes: uma sopa
   Após Mil Fontes: - 1 sandes de nutela+manteiga de amendoim, meia barra energética+um gel, 1 bidon de água, 1 bidon de isotónico Isostar.


   Francamente pouco.
   Duro na condição física, sem conseguir desligar a cabeça nem ter aquele sentimento de pedalada que tanto gosto e com muitas dores nas costas (inclusive na viagem de regresso).