terça-feira, 26 de abril de 2022

Maratona BTT - Alte 2022

Inserida na Taça XCM e a realizar no dia da Liberdade, esta prova trazia ainda várias sub-categorias, abrangendo em larga, todo e qualquer tipo de praticante de BTT.



   



   É verdade: faz muito tempo que andava arredado deste tipo de eventos, muito em culpa por vicissitudes da Covid mas também de estar mais dedicado ao ciclismo.
   Nos últimos dois meses fui procurando uma prova para regressar. A saudade já apertava e a Superior na garagem gritava por atenção a cada vez que lá ia. 
   À medida que as semanas passavam e sem sucesso na escolha, ou porque as inscrições esgotavam, ou precisamente pelo contrário terem muito poucos registos, pela incerteza da metereologia, pelo tipo e dificuldade das provas que se perfilavam nas escolhas (poucos km e baixas altimetrias), ia aumentando cada vez mais a vontade de participar.
   Assim apareceu a Maratona de Alte num calendário favorável. Um fim-de-semana prolongado.
   Tralha para um cesto, alojamento em Almodôvar (porque em Alte e arredores estava tudo esgotado graças ao Moto GP, a um evento de caminhadas e não sei mais o quê), e vontade do saco.
   O saco esse trazia mais qualquer coisa, indesejada infelizmente, mas já lá irei.
   Os dois dias passaram depressa (assim é a vida de papo para o ar).


   Na véspera, os preparativos trazem sempre aquele gostinho especial, uma espécie de adrenalina e nervozinho miudinhos controlados.
   Verificar material e obviamente bicicleta e soa o alarme: um pneu a meio ar. Problema num pipo, solucionado com facilidade recorrendo a ferramentas do alojamento local, "bike friendly" classificado.

   Dia de prova
  Às 06h30 tocava o despertador e havia que correr para estar em Alte (a 38 km de distância) o quanto antes, para levantar o dorsal e últimos preparativos.
  Logo assim de chapa dava a entender que 06h30 fora demasiadamente optimista. Engolir um pequeno-almoço, meter a tralha toda no carro, pegar na bicicleta e.....alarme! O pneu em baixo outra vez. 
  Entre o susto, as dúvidas do que fazer e o tempo a passar no relógio, fiz-me à estrada.
  Para ajudar, um nevoeiro cerrado limitava a velocidade e enquanto o tempo passava depressa, os km passavam devagar (mais tarde em plena prova, ambos estariam em sintonia).
  Com as mãos no volante, e os olhos no cinza do nevoeiro, as dúvidas, medos, receios assolavam-me a cabeça, talvez despoletados pelo pneu vazio de ar, talvez pelo facto de duvidar das minhas capacidades para a prova (anunciados 69 km com 1.750m de acumulado em altimetria), talvez por já não participar faz muito tempo.
   Saltitava por entre como resolver o problema técnico e o problema físico e se o primeiro seria fácil (à chegada ao local, pedi ferramentas a um atleta de elite da Taça e ficou resolvido....pelo menos naquele momento, restando saber se aguentaria a prova toda), já o segundo era uma incógnita. 
   Mesmo na hora e estava alinhado com os demais para a partida. A azafama e alegria festiva da zona de partida, normal neste tipo de eventos, contrastavam com o meu sentimento de dúvida.
   Voltando ao saco e ao que nele vinha, e que no fundo trazia uma constipação totalmente indesejada.
    Meti em pensamento que se não me sentisse bem, optaria por virar para a prova dos 44km na separação de percursos.
    

   Partida dada e os primeiros 20 km voaram quase sem dar por eles. Pica inicial ou facilitismo do percurso, ou ambos? Facilitismo do percurso pareceu-me.

                                                                   O arranque optimista


   Aos 30km a separação e nem hesito em seguir tal como fiz optimisticamente aquando me inscrevi na prova.
   Pouco depois tudo em mim mudou. Se tinha dúvidas que o pneu aguentasse, agora as dúvidas eram comigo.
  Simplesmente perdi o gás. Zero. Zero bateria, zero tudo!
  O terreno era técnicamente fácil mas fisicamente exigente: um sobe e desce com subidas, umas mais curtas e bem ingremes (acima de 20%), outras ligeiramente mais longas e ligeiramente menos acentuadas mas 13 a 15% de inclinação após as outras, até pareciam fáceis.
   As dores vieram em todo o lado: pernas, gluteos, lombar e até nos dedos das mãos. A respiração, freq. cardiaca, estava sempre num registo acima do meu habitual. A constipação não estava a facilitar-me a vida.
   Estas subidas alternavam com descidas ingremes e rápidas. Rolar a direito era escaço. este sobe e desce mata-me num dia normal, quanto mais num dia destes.
  Daí em diante foi um sofrimento permanente, enorme, talvez dos mais duros que já tive, pelo menos dos mais longos. Horrendo, um autêntico calvário, filme de terror.
  Para não exagerar, posso dizer que pensava em desistir a cada dois minutos.
  Bati mesmo no fundo e também foi preciso ir mesmo ao fundo repescar todas as forças mentais para chegar ao fim.
  Em momento algum veio aquele sentimento prazeroso de pedalar pelos campos, montes e vales, as sensações boas, a adrenalina e felicidade de fazer algo que se gosta. Tudo precisamente inverso.

  Classificação da prova (1 a 5)
   Organização pré-prova: 5 Toda a info bem disponibilizada. O track naõ funcionou no meu gps mas
                                             pode ter sido azelhice minha....
   Secretariado: 4  Tudo dividido por provas mas fila nos 44km. A fila era longa, culpa sempre da maltga
                             que vem na última hora, mas as organizações também devem acautelar este facto)   
  Percurso: 3  O terreno talvez não tivesse mais que oferecer. Não sendo agradável o constante sobe e                            desce, a monotonia da paisagem, a falta de passagem em pontos de interesse, algumas
                      extensões em alcatrão. Se fosse pelo meu gosto pessoal, seria 2.
Apoio e assistência: 3 muitos voluntários nos cruzamentos e passagens de estrada; pontos de água idem;
                                    pontos de abastecimento muito pobres em alimentos sólidos; simpatia geral de
                                     todos os elementos.
  Marcações: 2,5 alternando entre o bom e o mau. Longos espaços sem marcações, a separação de
                            percursos muito mal sinalizada, inclusive junto a um ponto de abastecimento de agua
                            que servia de distração e um assistente em frente à placa a tapá-la em vez de a
                            sinalizar ou alertar os atletas. Uma ou outra viragem que por não terem a marcação a
                           giz no chão (como fizeram em outros locais), levaram a engano também. E isso não se
                           entende pois se estava bom em alguns locais, porquê tão mau em um ou outro
                           igualmente essenciais?  Podia ter tido consequências bem piores. Mau!
Banhos: 3,5  Em estilo militar, montaram uma grande tenda com chuveiros de cordel e siga. Antes isto                       que fila. Agua nao estava quente mas também não totalmente fria e não sendo inverno,
                     tolera-se.
Almoço: 2  Pouco em quantidade e variedade. Deixou a desejar.
Dificuldade Técnica: 3 (anunciada 4)
Dificuldade Física: 4,5 (anunciada 4)
Preço: 5  O Valor de 10 eur é bastante raro nos dias que correm hoje mas mostra bem que se pode
               (provavelmente com os apoios certos e sem querer ganhar o mundo) organizar uma prova
               sem cobrar ouro.

Classificação Geral: 3,5

 

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