sábado, 24 de agosto de 2013

Ainda há comboios?

 Depois de uma semana feita de treinos em potência (terça treino Proaventuras outdoor, quarta e sexta a carregar no cycling), e devido ao forte vento anunciado para hoje e verificado no terreno, sentia-me capaz de ir ver se a CP ainda nao terminara com o comboio.

  Capitulo 1º - A Ape50

 Por causa do vento decidi então fazer-me ao comboio. Sempre se vai um pouco mais protegido e como o ritmo é bem mais acelarado faz-se uma volta bem boa.
   Toda a gente sabe o que é uma Ape50 (vulgo mata-velhos)? são aquelas motas de cabine com caixa fechada atrás. Chegam a levar dois velhotes na cabine onde só cabe um.



  Sai em direcção a Azeitão e fui apanhado em esforço por uma destas desgraçadas. O barulho e o fumo do escape matavam-me a respiração enquanto esse prodígio dos veiculos motorizados ganhava-me terreno muito lentamente.
  Na subida das Necessidades ultrapassei-a e dei ao pedal para que não mais me apanhasse ou corria o risco da surdez...e da intoxicação pulmonar. Verguei a mola mas fui bem sucedido (e o prazer de dar um bigode num veiculo motorizado, hmmm??).

  Capitulo 2º - Comboio inglês

   Às 09:15h cheguei a Entre-Rotundas de Azeitão. Abrandei a pedalagem, consultei as horas e quando preparava uma molha de boca e um mini relaxo vi a meia dezena de metros a cabeça da locomotiva a cavalgar velozmente na minha direcção. Nem tive tempo de mudar de faixa. Inverti marcha e segui logo mesmo pela berma em sentido contrário até que o transito automovel permitisse encaixar-me no pelotão, este mais pontual do que nunca. Parece que alguém foi passar férias a Inglaterra e trouxe de lá um relógio com manias de pontualidade.
 Vinha compacto e em bom ritmo fazendo adivinhar que não ia ser pêra doce, principalmente com o vento a fustigar.
  Mais alguns foram entrando. O grupo era vasto e ia devorando os que rolavam na mesma direcção. um grupo de cinco deu luta para não ser apanhado mas em vão. Eram como gazelas a fugir de leões esfomeados. Foi uma sensação agradável. Parecia estar a viver uma etapa do Tour por dentro.

  Capitulo 3º - O descarrilamento

  O Pinhal Novo chegou rapidamente tal era o ritmo que se levava. Comer agora nem pensar e beber era de rajada pela goela abaixo. Ainda assim aguentava-se.
   Na recta para Rio Frio o vento soprou lateral e era ver o grupo a esticar tipo elástico com cada individualidade a procurar protecção ora pela berma ora pela limitação da faixa e por vezes além desta (nada recomendado) mostrando um efeito tipo peças de dominó. Curioso (efeito este que se repetiu ao longo de toda a manhã).
  Até então tudo bem. Em Rio Frio curva-se à esquerda para o lado de Alcochete e chegava, como se diz nas aulas de cycling, o primeiro desafio da manhã. Dois ou três bichos tomam a dianteira e nas subidas que se seguiam aumentaram a velocidade que, para manter-me colado a este grupo, só em sprint de mudanças bem altas. Senti ir aos limites das minhas forças, km após km, metro após metro até que... abrandou. Um esticão que faz favor. Nestas alturas toda a gente busca o melhor posicionamento e sente-se uma certa hostilidade do tipo ou matas ou és morto. Mal cedes um centimetro, alguém atrás ou ao lado toma o teu lugar. Portanto há que manter as unhas e dentes bem cerrados.
  Assim sem mais nem menos, outro pico. Pimba, pimba, pimba. Um ritmo alucinante outra vez. Pus a carne toda no assador e baixei a cabeça. As minhas pernas imploravam que parasse e ajudava ao pensamento que me assolava em cada segundo: deixá-los ir. Mas lutando com todas (mesmo todas) as forças que tinha continuei. Vi-me a ser ultrapassado por muitos e vi muitos que ultrapassei esgotados.
  Já só perto da zona industrial de Alcochete a coisa abrandou. Estava nos meus limites. Mais um minuto e não aguentaria. Ainda valeram fortes buzinadelas de uns carros e as palmas de uns peões à chegada à Praça de Touros de Alcochete.
   De repente apercebi-me que há muito que ninguém assomava ao meu lado. Olhei para trás e não vi ninguém. Pelo menos duas carruagens descarrilaram. À minha frente seguia somente um grupo de não mais que vinte.
   O comboio não espera por ninguém. O comboio não tem amigos. O comboio não tem familía. O comboio não tem compaixão. O comboio não tem sentimentos. O comboio não pára nuca. O comboio não olha para trás.
  Contornando Alcochete pelo flanco esquerdo foi hora de novo pico. Uma recta enorme - a estrada da Atalaia- até à estrada nacional. E aqui gastei aquilo que pensava serem os meus últimos cartuchos, chegando inclusive a descolar do grupo por breves minutos.

  Capitulo 3º - aproveitar o embalo

  Já em plena nacional é chegada a hora de turn para o Samouco. É o apeadeiro em que saio. Comigo vêm outros dois. Seguimos juntos até Montijo depois viram para a Moita e sigo já sozinho para o Pinhal Novo.
   O vento continuava a fazer-se sentir e eu só pensava a que horas estoirava a minha bomba. Já devidamente alimentado o efeito banana apareceu e as minhas pernas queriam dar-lhe larguesa. Tentava resfriar a cadência mas as pernas diziam que não. Que se lixe, pensei. Quando rebentar, rebentei. Mas o motor foi aguentando sempre em altas. Sentia força. Dores também mas a força estava mais forte.
  No Pinhal Novo uma mota a pedais seguia ora a pedal ora a motor. Pimba, bigode nº 2 neste semi-motor (mais uma vez aquele sentimento do bigode...).

  Capitulo 4º - o auto-stop

  Estava tudo feito. O último grande teste, a subida para o alto da Volta da Pedra picou o resto das pernas mas sem maselas de maior. Agora era só rolar a toda a velocidade até Setúbal.
   Bem antes da descida da Cubata uma cara conhecida passa por mim de automóvel e faz um cumprimento. Respondo com um aceno ao mesmo tempo que constato a ausência de um sinal stop. Fico ali decidido em segui-lo até ao gim para o alertar do facto.
   Contudo logo ali uns metros à frente, três agentes da autoridade forçam-no a uma paragem. Pronto, tá lixado, pensei.
   Passei nitidamente em excesso de velocidade (xiiii, e lá vem a sensação do bigode outra vez aahahahha) e dou o resto até à meta final, e afinal o compadre até nem foi multado. Soprou o balão e tal e coise.
   Olho para as horas. ????? mas....como????...ainda é tão cedo??? quantos km fiz afinal???? 83km em 02:45 e uma média de 30 km\h, com este vento? Pois.
 
   Sem dúvida o comboio mais tgv que já apanhei que não estava para brincadeiras.
   Os dados aqui e na cena troféus e medalhas strava aqui (papei medalhas cmó camandro. Uau, que bom para mim. Já nem preciso jantar. Foleirice!

    Ah e sim. Para quem venha cá com coisas que o comboio e não sei o quê e a média e tal e coise e bébé bébé só digo. Estou moído e dorido e fiz mais do que se tivesse feito sozinho. Não é para todos.... os sábados.



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