segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Anonovada

Depois de uma Pascoada em Beja à quatro anos atrás, eis que por motivos de festividades da vinda do ano novo que se dá a oportunidade de reeditar uma volta tão agradável quanto útil e necessária. Daí o nome (Pascoada - Ano Novada)

   Longe vão os tempos em que o 31 de Dezembro era sinónimo de folia e exageros pela noite dentro.
  Assim depois de um dia de trabalho, uma viagem até Beja, e uma noite a cozinhar uma bela jantarada para a malta, estava pronto para a caminha perto das duas da manhã. Não só o cansaço mas também o enorme desejo de começar o ano da melhor maneira: a pedalar.

   Cegonhas, Paris-Roubaix, 4 cães raivosos e Muse.

   Manhã encoberta mas para a altura do ano, uma autêntica Primavera. O track saiu invertido. Logo na primeira virada, segui para a esquerda quando era para ser à direita. Esperemos que seja a única virada errada do ano. Esta de qualquer forma sem qualquer mal.
   Depois de um pedaço de estrada em obras, veio o paraíso alentejano: os verdes e castanhos fortes, os sobreiros e oliveiras guardados pelos eucaliptos de beira de estrada faziam encher as delicias da minha alma e fazer não pensar no joelho (não pensar mas não esquecer).
   Uma invasão de cegonhas sobre o meu céu e uma enorme que também ela contemplava a paisagem, pousada numa pequena ponte sobre um riacho, levantou voo em câmara lenta, mesmo mesmo já comigo tão perto.
   Mais adiante um troço de estrada medonho. Mal uma réstia de alcatrão muito e mal remendado fez-me sofrer, tal o desconforto que provocou, Afinal o “meu” Alentejo é melhor do que este. Paris-Roubaix aqui é brincadeira de criança.
    Na passagem da linha de comboio, uma zona bonita, saem 4 pequenos cães numa corrida desenfreada. Curioso que não vêm na minha direcção. Correm para a esquerda do meu horizonte saindo de uma quinta do lado oposto. Ladram sem parar. Enquanto acompanho o seu movimento apercebo-me que a estrada em que sigo vai dar precisamente ao local para onde correm. Os maganos (como se diz na terra) atalharam para me esperar.
   Na primeira análise não levantei qualquer preocupação. Quatro perros de pequeno porte e ladrar agudo, não aparentavam grande ameaça…. até chegar junto deles. Os bichos estavam raivosos e dois deles faziam perfeitas intenções de o mostrar e demonstrar, sendo bem visíveis os seus dentes repletos de espuma a menos de dois palmos da minha perna esquerda. Não tive outro remédio senão fazer um pequeno pico, um sprint ao estilo de uma meta volante.
   A subir para oeste em direcção à estrada nacional que me traria de volta a casa, sim porque a primeira volta do ano serviria somente para esticar as pernas, avistei a chuva ao fundo. Assim como os pequenos cães, fazia-me espera lá mais adiante.
   Para ajudar a encurtar a minha expectativa, levantou o vento de frente claro. Os carros que nunca cruzei em quase toda a manhã, passavam agora por mim de quando em vez agora. Os que vinham em sentido contrário ao meu, evidenciavam o que me esperava.
   Era o último duelo. Felizmente e para terminar uma manhã maravilhosa, tinha preparado uma playlist a condizer e que havia guardado para o fim caso apetecesse “esticar” um pouco: Muse nos meus ouvidos! É faca nos dentes e ir à luta de peito feito. Pode cair o mundo, pode vir a maior subida, pode soprar o vento, ou tudo ao mesmo tempo. Com Muse nada mais importa quando é para carregar.
    Minutos depois estava em casa. Já não chovia. Foram só umas gotas para dar sentido a “manhã molhada, manhã abençoada!”. A primeira do ano.
   Caramba, como eu adoro isto, cada vez mais.




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