domingo, 29 de janeiro de 2017

Insiste, insiste

 domingo
 ciclismo

  Nem chove nem coise.
  A serra ali ao lado e a Gt revisionada continuam a chamar por mim. Tenho mesmo que fazer uma incursão pelo btt mais domingo, menos domingo.

  Cansaço acumulado presente logo no inicio pela dor nas pernas, fruto de 2 horas de natação no final do dia de ontem, em trabalhos forçados de pernas.

  A ideia de fazer 3,30h de pedal começava a esbater-se.

  Na semana anterior falei de "cabeça", "vontade" e "pernas".
  Ficou guardado para hoje (e melhor dia não podia ter escolhido) para falar do outro indicador, talvez o mais importante de todos: a capacidade de sofrimento!
  Sejamos sinceros: doer, vai sempre doer! a capacidade para aguentar essa dor é que vai depender de cada um. E é essa adaptação que tem de se impor ao corpo (pernas) e sobretudo à mente (cabeça e vontade) para levar de vencida os desejos (ou objectivos) a que nos propomos.
  É como dizia o Carlos Sá (ultra-maratonista português): 20% é condição física, os restantes 80% é mental. Por certo, nas provas de longa duração, chega-se a um ponto tal que já não há dor, já não há nada.
  Não sei se as percentagens são tão assim e nem sei se há ciência que o permita apurar. Mas sei que efectivamente a cada treino, a cada prova, a dor vai lá estar. Mais forte ou mais fraca, mas vai lá estar. A nossa atitude perante ela é que vai ditar a nossa força, ou parte dela!

   Hoje foi um desses dias. A cada km percorrido, vagueando entre pensamentos, encalhei naquele que as pernas fazem questão de trazer à baila a cada saida: a forma (ou ausência dela). Pus-me com desculpas: a natação, o vento de frente, o cansaço dos últimos meses, a falta de treinos regulares e mais intensos como antigamente, bla bla bla. Tudo verdade. A cada um destes aspectos que as pernas atiravam cá para cima (para a cabeça), faziam-me duvidar do trajecto que idealizara logo pela manhã. Abortei a ida ao Espichel por causa do vento (para não sofrer tanto).
   Fui virando ora para a esquerda, ora para a direita. Ia evitando encarrilar no caminho de casa, embora por vezes a tentação tenha sido grande, principalmente quando o vento chocava de frente e dor agudizava ou simplesmente quando percebi que a nutrição que trazia era defeciente (bendita nota de 5 euros - falarei mais adiante).

   Interiorizei que mais valia seguir devagar e fazer uma volta mais longa do que conitnuar a forçar e ir directo para casa. Ah mas as dúvidas, as dúvidas.
   tracei um objectivo: fazer um reforço alimentar em Azeitão e depois seguir para a Serra. Instantes antes lembrara que em outras ocasiões foi precisamente na dor que evolui para outras andanças. E se nas ultimas semanas este tema ja me aborrecia, então que se transforme em força nas pernas para o combater.
    Torrei os 5 euros inteirinhos (ou quase) em duas empadas hiper-salgadas e um sumo de laranja doce como a merda e arranquei decidido em direcção a uma serra oculta no seu topo por nuvens negras.
   Estava novo. À medida que um grande grupo de retornados passava por mim em sentido contrário, eu cerrava os pulsos no guiador contra o vento e ja a pensar no que me esperava. O alento vinha do ar das praias que haveria de respirar. Ia só fazer meia-serra.

   A corrida com o cão:

   Ao chegar ao cruzamento do Portinho, estava um cão nele parado. Deu duas voltas no mesmo lugar quando um carro por ele passou. Ainda a uns metros de lá chegar dei-lhe um assobio: fiiiiuuuuu.
   O bichano olhou para mim, levantou as orelhas e raspou-se de um tiro pela descida abaixo. Era um cão de porte médio, pêlo castanho e alongado, com coleira (acho), e aí na casa da meia idade...para um cão.
   Ao chegar ao cruzamento virei na mesmíssima direcção. Pensava que o veria uns metros mais abaixo a rodopiar ou algo que o valha. Mas não! O bicho seguia desgovernado numa corrida estrada abaixo. Pior dos meus receios é que fosse atropelado. O animal cortava as curvas, seguia fora de mão e mais trinta por uma linha. Achei que talvez fosse melhor não seguir atrás dele para não o incentivar. Mas que raio, ele já lá ia.
   De coração nas mãos, atirei-me pela mata do solitário adentro. Rezava para que não viesse nenhum carro.
   O desgraçado do acastanhado ia que nem o Bolt. A lingua de fora toda puxada de lado, as orelhas rasgadas para trás e os olhos semi-serrados. Parecia mesmo que estava à minha espera para aquele duelo e quando o ultrapassei, mirou-me quase que poderia dizer com um focinho de gozo!
  Sacana do bicho.

  Feita a descida, faltava o regresso! Munido das forças que restavam, poucas julgava, fiz-me ao largo da beleza do rio, da Tróia, das praias. Belas cores, linda vista, carrega na pedaleira.
   Num instante cheguei a casa (vejo agora que fiz PR nestes troços??? no final da volta? num dia cansaço?) Ou isto não vai tão mal quanto penso, ou o vento deu uma mãozinha no final?

   Que sa lixe.
   O que soube bem no final é que fiz as 3:30h, quando pensava que não, com meia-serra à mistura.


 

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