segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Rei dos Batoteiros

Ontem (domingo) fui ao cinema. Fui ver "A mentira de Armstrong", um documentário que retrata o escandalo do doping do mais mediático ciclista de todos os tempos.
 Posso dizer que fiquei algo desiludido.
 Senti o filme todo que o realizador tem aquela mesmíssima dúvida que me acompanha sempre que surge um caso de doping. Primeiro o descrédito na modalidade, depois o deixa para lá. Porquê? Passo a explicar:
 - a forma que tenho de estar no desporto e em tudo na vida, prende-se sempre muito com o gosto de fazer, estar, agir. A injustiça, a desigualdade, o desfavorecimento, a mentira, a batota são conceitos feios e horrendos que combinados com os individuos que pretendem ganhar a todo o custo, tornam-os em animais, bestas sem escrupulos.
 Este tema dava uma enorme composição para a qual nao estou nem para aí virado. Portanto limito-me a falar do do caso do ciclismo e do Armstrong, objecto central do filme.
  Armstrong ganhou 7 vezes o Tour. Nunca foi apanhado em controlo positivo de doping ou se foi, nunca soubemos. A questão é: e os outros não estavam? Resumidamente Armstrong acabou por ser o batoteiro dos batoteiros ao que juntou provavelmente as grandes capacidades fisicas que tinha e ter ainda a capacidade de reunir provavelmente os melhores técnicos e médicos ligados ao ramo. Todos os anos há casos de doping. Todos os amantes e acompanhantes do desporto sabem que este está carregado de doping até à raiz dos cabelos. Não é nem nunca vai ser limpo. A industria do doping gera milhoes que lhe permitem ir sempre à frente dos controlos de despiste financiados (pouco e se calhar propositadamente) pelas entidades oficiais. É uma luta desigual.
  Mas voltando à vaca fria: se estão todos dopados, se são todos batoteiros, então o rei dos batoteiros é Armstrong e é agora veemente atacado como um marginal. Então não deveriam ser todos? Ah pois deviam.
  Aqui a pequeníssima diferença é que, dizem algumas fontes tais como ex-colegas e até o próprio, que Armstrong seria o maior sem escrupulos quando alguém se lhe opunha, ao que chegou a dar cabo da vida de umas quantas pessoas. Se estas mereciam ou nao e em que contornos, desconheço. Mas nisto parece que Armstrong era efectivamente um canalha.
   Ora esse comportamento é para mim punivel até à ultima consequencia. O doping? para mim são todos batoteiros e assumo o espectáculo partindo desse principio.

    Quando soube deste documentário fui ve-lo, confesso, com vontade de um julgamento em asta publica: um linchamento com sangue a escorrer de todos os poros do Rei dos Batoteiros, não pelo doping, mas por aquele poder que Armstrong tinha (ganhou\deram\arranjou). Mas depois de dentro de mim, sai aquele sentimento de humanidade que às vezes até me irrita e por vezes tanto baralha: o perdão, a capacidade de misericórdia. Ao ver o filme percebe-se que o realizador tinha inicialmente a ideia de um filme apoteótico para a ressurreição do Deus Armstrong. Depois, nao ganhando este o Tour de 2009 e provavelmente com acesso a alguma informação\rumores sobre o escandalo que ai vinha, o realizador meteu o filme na gaveta até ver... No fim, acabou por fazer de um documentário sobre um herói, uma manta de retalhos sem raciocinio nem opinião nem visão. Um grande conjunto de indefinições limitando-se ora a dar uma facada no "herói" ora dando-lhe uma ovação de heroismo. Em que ficamos afinal? em nada. Num vazio que ja se trazia do passado de um documentário que não acrescenta nada. Não que o tivesse de fazer mas nao o ter visto era a mesmissima coisa para mim.

   Portanto nao temos heroi nem mercenário. Temos as duas coisas? A unica opinião com que fico era a que já tinha: Armstrong foi obrigado a declarar-se culpado para nao ir para a cadeia (pelo menos para já e por mais anos), mas fá-lo dizendo entre linhas (pois nao lho permitem dizer de outra forma) que é tão culpado como todos os outros logo não compreende a punição, a hipocrisia. Mais me fica que é um mentiroso compulsivo e que jamais o deixará de o ser ao manter-se fiel que nao se dopou no Tour de 2009. Niguem morre a subir uma serra e no dia seguinte está para as curvas. E é isto que diferencia Armstrong de todos os outros. É que ele é impiedoso. Na arrogancia do "sou culpado mas fui o vencedor de todos que sao culpados como eu" nao consegue largar o papel de querer ser o melhor continuando a mentira do Tour de 2009. Está enraizado. O que o distingue dos outros é o facto de que o Contador nesse mesmo Tour te-lo "rebocado" até ao terceiro lugar (isto mal aparece no filme), apesar de "inimigos" no seio da mesma equipa. Contador foi "misericordioso (tb a mando do patrao da equipa é certo, mas Contador poderia perfeitamente ter ignorado como o fizera dia antes), coisa que Armstrong jamais conseguiria ser pois Armstrong teria de esmagar.
   Mais, Armstrong revela a sua verdadeira personalidade ao ve-lo defender-se sempre de jornalistas e afins com "eu criei a Fundação de luta contra o cancro", "eu represento todos os milhoes de pessoas com cancro, acha que me doparia"? Tanta hipocrisia.

   E nisto sim eu queria um linchamento! Pela pessoa que mostrou ser e que foi. Era aqui senhor realizador que com um pouco de coragem que nao teve pois nao sabia bem o que fazer ao seu filme e que o proprio convivio com o Armstrong lhe deixou afinal misericordioso, teria feito um bom documentário.
  Assim muniu-nos de nada para deixar a cada cabeça a sua sentença numa espécie de "faça você mesmo" o seu juizo disto tudo. Atem nem tinha mal, mas eram precisos, lá está, dados novos ou mais profundos que o sr realizador não trouxe.

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