domingo, 20 de julho de 2014

Desistência

 Assim se sente apenas um pequeno sabor daquilo que é um abandono de uma prova. Imagine-se um Froome, um Contador ou outro que colocam um ano inteiro de preparação em determinado evento e depois numa questão de segundos, ou de detalhe, de uma avaria, de uma lesão, de uma queda, ficam forçados ao abandono da prova. Os momentos seguintes são devastadores.

  Bem não foi concretamente a mesma coisa mas o amargo de boca de não completar um desafio que se quer tanto fazer, de uma preparação mai ou meno que se fez, de uma viagem de 300 km para cima + 300 km para baixo, de uma toda logistica, do até dinheiro que se dispende e no fim, chapéu.

   Acordámos de manhã cedo. Pouco passava das 6h da manhã. Higiene matinal e tudo ali bem ao meu lado no minusculo quarto alugado a poucos km de distância da meta. O dorsal e as burocracias de última hora foram tratadas na véspera logo à chegada a Seia, a roupinha a utilizar, a comida, os apetrechos electronicos, o kit reparações.
   Onde está a serra? Da pequena janela da casa-de-banho apenas se via o seu inicio. Toda a restante paisagem acima estava encoberta por um grande manto cinzento. As condições climatéricas não pareciam assim grande coisa.
   Umas garfadas na massa e siga para o ponto de partida. Grande aglomerado. Pouco mais de 800 participantes ou pouco menos. Muita ansiedade. As dúvidas do momento eram somente sobre a roupinha a usar. Para já calor. Tira o base layer. Vou só de casaco.
  Aparece o rui. Avaria mecânica sem possibilidades de reparação. Um ficava já ali e nem começava a prova.
   Partida. 8:00h em ponto. Começa a chover. Pelotão arranca desalvorado. Antes de sair de Seia já parava para vestir a peça de roupa que tirara.
   Siga para a frente que o carro-vassoura já vem a empurrar. Para Cicloturismo estamos com muita pressa não?? embora compreenda que as estradas estão cortadas para que todos saiam em segurança,não gostei da atitude.
 Aqui e ali mais uns quantos atrasados vão chegando. Rola-se a grande velocidade até começar a primeira das muitas grandes subidas.
   Chove agora copiosamente. À medida que subimos, o corpo vai ensopando. Não há paisagem. Tudo à volta é cinzento.
   A subida continua. A chuva ora abranda ora aperta. As condições são muito más.
  Aos poucos vamos encontrando ciclistas que vêm na direcção contrária. Abandonam logo ali. Dizem que assim não dá.
   Uma hora depois de termos começado a subir e não consigo aquecer. Vai começar a descida. Estou gelado. Sinto aguá por todo o lado do meu corpo mas é no tronco que mais sofro. A descer vai ser horrivel e horas disto até que abra (as previsões indicavam 11:30h da manhã).
   Para mim acabou. Não estou equipado nem preparado nem habituado, nem disponibilizado para este duelo. A tirada só por si já seria um Golias dificil de derrubar. Não necessito do seu exercito a ajudar.
   1 minuto parado e estou enregelado. O turtle vem a sentir efeitos mais tarde ja a meio da descida.
   Não consigo controlar o tremer das pernas. O lábio superior deixa de funcionar e ao falar parecia um "xopinha de maxa". Só 15 km mais abaixo recupero.
    Mais tarde já a almoçar a meio caminho da Torre (que belo almoço) chegaram noticias da "frente". Prova cancelada. Ninguém mais segue. Não há condições.
   Tantos dias com calor, tantos dias assim assim e logo neste tinha que vir esta frente fria..
 
   Hoje saí para uma pequena volta. Foi à bruta. Foi de raiva.
    Novo desafio marcado para dentro de 2 semanas.


   p.s. Não deixa de ser curiosa a cultura ciclistica do norte do país em comparação com o sul. No restaurante após alomoçarmos, ficámos a ver o Tour que estava a dar na Tv. Cá por baixo nunca o vi em qualquer televisão. Pode ter sido somente uma coincidência também.

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