sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Setúbal e Desporto em 2016?


 A cidade de Setúbal recebeu o titulo para Cidade Europeia do Desporto.
 Sinceramente não sei de onde tal veio. Não sei quais os critérios para o efeito, nem a relação benefícios versus prejuízos que tal venha a acarretar.
  À parte as condições geográficas fantásticas (ainda no tópico anterior referi a quantidade de desportos que vi a serem praticados numa só manhã, em ar, terra e mar), não vejo em Setúbal o que vou vendo por outras localidades.



  Setúbal, uma cidade linda como muitos dizem, e aí tenho que discordar de todo, a cidade não é linda, é hurbanamente mal conseguida, desordenada, suja, degradada, de costas viradas para o rio e para a serra, envolvida em problemas sociais como o desemprego e bairros sociais que albergam muita pobreza. Baixa da cidade abandonada, monumentos degradados, espólio cultural perdido\mal recuperado.
   Foi vitima anos a fio de um único interesse económico: o betão. Foram décadas de descuido a ignorar o que uma população necessita e deseja. E nisso, também vitimado o desporto. Nos últimos anos houve um esforço em mudar. Houve finalmente o surgimento de algumas infra-estruturas importantes para o desporto: a construção das piscinas, da pista de atletismo, a recuperação de alguns espaços desportivos nas Escolas (pavilhões e recintos adjacentes).
  Mas terá sido o suficiente? Terá sido o mais adequado?
   Certo é que com grande caturrice da comunidade, pequenos núcleos de colectividades, clubes ou simples associações desportivas têm sobrevivido e prestado a sua cota-parte de serviço ao dispor da comunidade.
  Mas o maior exemplo para as questões anteriores são só grupos de gente que corre ao ar livre quase diariamente, os grupos de pessoas de todas as idades que se reúne duas ou três vezes por semana e corre na principal artéria da cidade, os grupos de pessoas que fazem caminhada na cidade ou na serra, os grupos de ciclistas que ao fim-de-semana têm o expoente máximo de concentração inundando as zonas limitrofes do distrito, o sem-numero de pessoas que faz btt na serra, os grupos de pessoas que fazem canoagem no rio, vela de quando em vez, kite-surf para os lados de Tróia, parapente no alto da Arrábida, os pequenos grupos de escalada nas fendas da serra, etc, etc, etc.
  E que infra-estruturas se vêm criadas para este enooooorme grupo de gentes que faz do ar livre o seu espaço, o seu local de pratica desportiva? zero ou quase nada.
   Vai daí esperemos que esta nomeação agora adquirida traga uma mais-valência nesse âmbito e sejam criadas condições de apoio a toda a população que simplesmente queira disfrutar do melhor que a cidade tem. Sim essa cidade feia que à pouco falava mas que é linda linda na geografia em que se insere: situada na foz do Sado, com o seu estuário e a serra ao lado a contemplá-lo, com a Tróia na outra margem e toda a sua língua, mas mesmo esse ínfimo diamante já mais que delapidado, essa pequena lasca, está mal-tratada e desesperadamente a necessitar de atenção. As pedreiras, as lixeiras, os entulhos, as indústrias estão a dar-lhe uma morte lenta mas cujas feridas são já bem evidentes à superficie e qualquer dia acaba, como a linda cidade que Setúbal já foi e agora não o é mais.

   Por isso tudo fico surpreendido como foi atribuído este titulo. Mas se foi, que sirva para algo e que esse algo não seja mais betão. As pessoas estão na rua, as pessoas querem estar na rua, porque gostam, porque sabe bem, porque a rua é um espaço ao ar-livre, saudável, agradável e dá tudo o que é preciso para a pratica desportiva. Só é preciso dar um pequeno apoio. Como? em quê? é mesmo preciso dizer? não, não é. É só olhar em redor. Ver onde a população passeia os seus músculos e será facilmente perceptivel o que faz falta. Mas por favor não venham anedóticamente com ciclofaixas (um dia deixo aqui uma fotografia deste péssimo tema).

   Fico à espera de ver este 2016...

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