sábado, 30 de abril de 2016

TGV quê?

 Eram perto das 08h da manhã quando o despertador tocou.
 Apesar das apenas 5 horas de sono, dei um pulo da cama e fui raiar à janela. Num instante veio-me à cabeça que para além do sol lindissimo lá fora e de uma temperatura agradável, andava por aí um vento moderado. E em outro instante, uma decisão: TGV.
  Faz tempo que não o "apanhava" e assim seria juntar o util ao agradável.
  Como a hora já era tardia nao me restou senão colocar a bicicleta no carro e rapidamente ir até Azeitão.

   Mal estava despachado e já outro ciclista alertava: "ele aí vem". De um impulso sem mal dar para aquecer, apanhei-o de um safanão que quase me saltou o pequeno-almoço. O comboio vinha desgovernado.
   As pedaladas seguintes foi estabilizar numa carruagem confortável. Por esta altura já matava saudades.
   Mais adiante a coisa começou a desagradar-me. Uma catadupa de acontecimentos deixou-me incomodado. Algo não estava bem. Não parecia o tgv que conhecia.
   Este organismo mutante que é um pelotão, que toma formas e jeitos que o vento molda ou que a ferocidade, maior ou menor, impõe, tem algumas regras.
   Não é dificil nele coabitar mas aquilo que sentia, via não me agradava:
    - Já ninguém indicava os obstáculos da via publica: buracos e tampas de esgoto eram galgados a seco, em que o barulho dos cavalos de aluminio ou carbono doiam na alma de quem os ouvia, mas não eram suficientes para abafar uns "fodsssssss" que os galgadores emitiam.
   - já ninguém ou poucos sinalizavam as mudanças de direcção, fossem as suas fossem as de apanhar outra estrada adjacente.
   - já ninguém sinalizava o abrandamento ou quase paragem do pelotão.

    Tudo isto junto e os calafrios misturados por entre os sustos, fizeram-me descair para a cauda do grupo. Uma ou outra reclamação mas poucos pareciam dizer mais o que quer que fosse.
    Adiante uma rotunda e passam a eito. Simpaticamente o carro que nela tinha prioridade parou. Seguidamente um semáforo vermelho e poucos foram os que pararam.
   Cada vez mais desagradado vi ainda um automobilista fazer uma ultrapassagem a todo o grupo de tal forma medonha que foi sorte não cair ninguém.
   Mas na raiva demonstrada à laia de esbracejar de braços e levantar de cabeça num só golpe e dos proliferados palavrões dos ciclistas que não respeitam mas querem respeito, todo o grupo se desorganiza.
    Naqueles segundos de hesitação o insólito dá-se. Vá-se lá saber porquê, um ciclista sai para fora de pé, que é como quem diz, vai para fora de mão. E outro como que num movimento simetrico sincronizado, dita do mesmo movimento cruzando-lhe pela frente.
   Resultado? os dois para o chão. Felizmente ninguém se aleijou. Felizmente nenhum carro surgiu em sentido contrário. Infelizmente a cabeça destes dois nao funcionou.
  E se tal nao fosse suficiente, ainda queriam estes dois lampejos de inteligencia pegar-se em pancadaria. Bom pelo menos um deles ao que ainda o ouvi barafustar "só não lhe dei porque a bicicleta não sofreu nada". Bom, há que dar a mão à palmatória, pelo menos pelo amor que tem pela sua bicicleta mais que por si próprio.
   Bem, também eu partilho de igual amor: mais pela sua bicicleta (fosse ela qual fosse) e nenhum por ele próprio.

   Foi o ponto final. Ou quase.
   Arredei-me de tudo aquilo mas um parceiro a estrear-se em comboios fora de carris lançou-me a corda. Em dois dedos de conversa daqui e dali e sem reparar ja estava novamente com o grupo, sabe-se lá em que parte do distrito.
  Foi ir indo. O ritmo aos safanões não fazia bem ao meu joelho e às minhas pernas, vitimadas por uma semana mais "pesada".
   A acusar algumas dores pensava "como estou fora de forma, que antigamente acompanhava tão bem". Afinal, a média seguia nuns simpáticos 34,5 km\h. Não era eu que estava mal...

   Um pouco mais adiante e sai da twilight zone e depois de ver um namorado a fazer lançamentos com o braço a impulsinoar a sua namorada para a frente, para que esta assim ganhasse balanço e aliviasse as pernas não perdendo o comboio, isto vezes sucessivas sem conta, não hesitei mais: apeei-me de tanta confusão.

    Vinha sozinho com os meus botões, ah, sozinho com os meus pedais, e sentia as caimbras a aparecer, coisa rara que me sucede. Enquanto decidia se mantinha um ritmo vivo ou deixava fluir até Azeitão, fui caçado novamente pelo comboio.
    Desta feita já só vinha a locomotiva e assim pensei: que se lixe, vai mais uma viagem até à próxima estação.

    Assim não.

  



Sem comentários:

Enviar um comentário