domingo, 2 de agosto de 2015

Será?

 Ciclismo ontem e tal volta ca malta, quarteto maravilha, vento assim e assado, nem tanto calor, bom ritmo, bla bla bla, 130km e tá feito com algum cansaço.
 Hoje resolvi não sair. A época já vai longa e o ombro parecendo que não, deve ser fustigado nestas 4 horas em cima da bceclete.

   Vai daí fui ao café do bairro. O sossego enorme e uma fresquinha que corria pelas duas unicas mesas da esplanada convidaram-me a sentar.
  A movimentação na rua era de uma quase nulidade (tão bem que se está no sosseego) resumida a um automóvel que passou e um cão que veio mijar no mijado, nas esquinas de cada ombreira de um prédio circundante (haja quantos mijados houver, qualquer cão tem sempre mais uma pinga para deixar a sua marca ante a de outro compadre seu).

 Vai daí e irrompem 3 biciletas pelo passeio adentro, virando a esquina com fervor. Ao seu comando, três rapazolas cuja soma das idades ainda ficava a dever à minha.
  Ali estavam eles e suas montadas, cheios de pica, cheios de mocidade para usar o termo do antigamente. e cheios de sede também.
  A troco de uma nota rapidamente encheram os bidons (sim, esta malta não está para brincadeiras e as suas btt tinham tudo o que devem ter e um deles, equipado de tal maneira a rigor que a sua roupa e capacete "flourescentes" combinavam na perfeição com as cores da sua bicicleta).
  Observava-os enquanto depenicavam um pacote de mini-croissants que saltava de mão em mão como as pombinhas da Catrina, essa estrangeira entoada em música que nunca soubemos de que país veio, a Catrina, não a musica. E nisto de observar miudos vá lá ter cautelas não venha logo daí alguém dizer que é pedofilia ou rapto ou que demais porque no estado em que isto anda, nem sequer um aperto de mão te atrevas a dar a um puto.
  Mas dizia eu, observava-os até porque o cão fora embora, o matutino mais merdoso (termo mais brando que consegui arranjar) não me despertava qualquer curiosidade, os passarinhos não andavam pelo ar, as folhas não rebolavam pelo chão, ao que não me restava mesmo mais nada no meu campo de visão senão os putos, tinham as pernas depiladas.
  Meu Deus, que erro! eis como o serviço da moda, como as coisas do agora quase sem darmos por elas, levam-nos ao engano. Bicicletas+pernas sem pelo= depilação.
  Obviamente que não era aqui o caso. Mas a minha cabeça atirou-se logo para esse juizo de valor. Obviamente que os miudos não fizeram a depilação, mas sim a idade que ainda não lhes trazia o rebento dos pêlos pelos póros.
   Um pensamento seguinte ocorreu: na idade em que tinha a idade deles, quem não tinha pêlos tava tramado. Não era homem! era um copinho de leite, um menino da mamã. Fosse nas pernas, debaixo dos braços, no peito mas principalmente nos tomates, havia que ter pêlos para a afirmação no pleno de ser macho, de ser forte. Ai de quem não os tivesse. E assim viviam-se putos da rua a estimar aquele pelozinho que mal aparecia e não se queria perder. Fita-cola por cima dele no banho para não cair, pentear com pente de plástico (nada de pentes de ferro) para lhe dar vigor, usar a laca da mãe para ficar firme e não bambolear ao vento e cair, tudo valeria para não perder aquele rebento de macho, aquela medalha de honra cravada no corpo. Alguns mais extremistas talvez mesmo a usar a espingarda do playmobil a servir de estaca para o amparar....E depois vinha aquele primo parvo gordo e num acto de plena atrocidade, de um puxão arrancava-o com desdém e lá saía berreiro, não de dor mas de angustia do pequeno que ja queria ser homem e agora chorava por ter ficado sem o pêlo. Que bela contradição.
   Nunca liguei pêva a essas, lá está, mariquices mas havia uns pêlos que rezava para que NÂO me crescessem: os do bigode. Sim porque se todos os outros se queriam, ter penugem arriba do lábio superior já era sinónimo do maior gozo e rapidamente se ganharia um apelido de algum desenho animado da época ou figura popular. De fugir. O terror para qualquer um e até acredito que tenha havido quem tenha usado a gillette do pai ou a cera da mãe (talvez mesmo a pinça, uiii que dor só de pensar) tal alguns bustos avermelhados e cortados que apareceram no bando...

  Curioso como estamos nos principios dos anos 90, Pêlos sim s.f.f (mas os do bigode não). E hoje? e é esse o pensamento que me ocorreu seguinte: e como é hoje? rezam os putos para que não lhes apareçam pêlos? aparam, arrancam os que lhes aparecem? Como será? É que com as tendências que o papá e a mamã vivem, terão mudado os tramites de afirmação do jovem que já não quer ser visto por menino da mamã e ser um fortalhaço como os outros?
  Bem, certo é que os putos já não se dão em bandos de rua como naquela altura pelo que se calhar não é pelo pêlo que a coisa se faz, mas pelo calo que se tem nos dedos de dedilhar telemoveis, computadores e consolas:
  "mostra lá o teu calo, epah isso é mesmo maozinha de bébé", "vai lá colocar o creminho da tua mamã para teres mão suave", "olha olha o maozinhas de menina"

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