segunda-feira, 27 de abril de 2009

Aldeias do Xisto e Arripiado - Capítulo I

Capítulo I - A bicicleta não espeta na areia ou a vontade de partir.
23\04\2009


De entre várias coisas célebres dos loucos anos 90, sendo na data eu um jovem entre a adolescência e a puberdade, algumas boas outras más, foi rebentando por entre cantos do mundo o fenómeno do surf. Não sei bem como nem o porquê desse "bum" inicialmente tímido que rápidamente se transformou num monstro da moda e do negócio oportunista económico. Será que foi um filme? ou talvez uma música? Talvez. O que sei é que para se ser o mais "cool" possivel de então tinha que se ser surfista. Cabelo louro nem que fosse oxigenado, roupas venareantes coloridas, havaianas nos pés e por aí. Penso que todos hoje temos a imagem do que era um surfista dos anos 90 (pobres pedaços de madeira espetados na areia a estorricar ao sol, sem nunca tocar numa gota de mar, limitando-se a oferecer sombra ao seu dono)


os meninos louros do surf.



Não me intrepetem mal. Eu respeito a época e os seus surfistas e punks, vanguardas, betos, skaters, breakdancers, heavies, jogadores da bola e por aí. Não existem estas definições. Todas elas são pessoas. Eu fui alguma ou nenhuma delas e gostava de ter sido todas e muito mais...
E sim, gostava de ter experimentado o surf nessa altura. Mas a logística era complicada. Fazer surf para quem não morava à beira de uma praia com ondas a belo jeito era sinónimo de graves complicações logo à partida. E as pranchas e os fatos eram vendidos a peso de ouro, logo complicações logo à chegada...à loja!.


O surf que eu gostava de ter experimentado não era este a que me referia dos meninos louros com t-shirts coloridas da Billabong ou da Quicksilver, entre outras (eu tive uma t-shirt da Lightning Bolt e uns calções da Quicksilver). O que eu na altura gostava de ter experimentado era a sensação de disfrutar o mar, a praia, o deslizar e rasgar as ondas em cima de um pedaço de madeira, em zonas desérticas e paradisiacas longe de confusões humanas e olhares.
E fi-lo. Fi-lo em algumas revistas do género, das poucas que chegavam ao nosso país, mergulhando em cada página afogando-me nelas horas a fio, emergindo depois para a realidade quando a minha mãe me chamava para o jantar.


O surf que eu gostava de ter experimentado era o de sair com um grupo de amigos num carro, com as pranchas amarradas no capôt e ir sem rumo para depois acostar num qualquer lugar (ou spot para entrar mais na "onda") e logo correr desenfriadamente para a àgua do mar. Portanto exactamente aquilo que os meninos louros faziam ou também gostariam de fazer.
Um dia ainda hei-de surfar.

Foi nesse espírito, mas no de duas rodas, no de duas rodas e selim, no de duas rodas, selim e pedais que no ano passado resolvi ir saindo fim-de-semana aqui, fim-de-semana ali, explorar outras paragens, outros "spots".
Em vez da prancha no tejadilho levo uma bicicleta de todo o terreno. E na bagagem levo vontade de nela surfar vales e montanhas e serras e montes.

A bicicleta não espeta na areia. A bicicleta não faz sombra. Encosta à porta da taberna e ganha ferrugem na garagem. Ou então "surfa".

Já fiz neste blog alguns relatos dessas escapadelas.
Esta que inicio aqui foi mais uma. Mas foi mais profunda. Foi mais "cool" sem necessidade da roupinha gira, do cabelo tratado ou destratado ou do autocolante no carro com referência a Santa Cruz ou ao Hawai ou ao Maui.
Esta foi especial porque foram três dias seguidos de puro prazer em plena armonia entre mim, a bicicleta, a terra e o ar.

Quero mais e mais vos hei-de contar. Mas agora já não. Agora vamos relaxar. E depois partir: eu e o "bicho corredor".

2 comentários:

  1. Sou casada um surfista. E ser casada com um surfista, é uma coisa engraçada, porque sem querer, nós acabamos incorporando o estilo de vida do surf, em alguns detalhes: lugares fantásticos, pessoas que de verdade, vivem a vida, sem neuras, simplesmente agradecendo por uma onde maravilhosa enviada por Neptuno e sites que sequer, eu imaginasse que existisse. Passei a aderir a esses sites movida pelas histórias postadas, pelas músicas, pelos vídeos, enfim, por tudo.

    Quisera, todas as pessoas, quiça, um dia, deslizassem sobre uma onda, dançando radicalmente, curtindo, curtindo e só curtindo o momento….

    ResponderEliminar
  2. É exactamente esse o espírito. Viver a vida sempre numa "boa onda", seja no surf, em qualquer outro desporto ou até mesmo em qualquer coisa que se faça...
    Deveria escrever sobre isso minha cara anónima. Teria todo o prazer em ler.
    Obrigado pelo comentário.

    ResponderEliminar