quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Com todas as forças

 A segunda história do dia (no seguimento do post anterior) vem de uma atleta que ainda está em competição. Não busca nenhuma medalha nem sabe bem ao que pode ir se vencer o que quer que seja. é sem dúvida uma enorme atleta na maior e mais árdua de todas as provas: a da vida.

  A atleta em questão, provavelmente na casa dos trinta e poucos anos talvez estes agravados pelos seus oitenta kilos e imagem descuidada de quem já teve um dia preenchido e sofrego, e que nem de todo reside aí, na imagem, a maior ou menor das preocupações da sua vida.
  A atleta em questão tinha no motivo do dia a esterilização de uma cadelita que lhe aparecera perto de sua casa. Diz que o animal ja perto dos seus dois anos de idade se afeiçoou tão rápida e fortemente de seu lar que lhe abriu também um lugar no coração.
  O também vem pois no motivo da esterilização, motivo do dia. É que no coração desta atleta já lá viviam outros seis canitos e segundo ela, até o seu mais velho começou com ideias de procriação à recém-chegada.
  Lá andam gentes deste mundo fazendo jus ao ditado antigo do "onde comem três, comem quatro, onde comem quatro comem cinco" e por aí em diante.
   Sabemos pois todos nós que na realidade destes tempos que nada têm a ver com os tempos em que tal ditado foi original, mais um a comer é uma despesa que se acentua na carteira. Mais pão menos pão, mais água menos água mas a que preço, perguntamos nós.
   A atleta, que em nenhuma prova outra participa senão a do passar mais um dia, está desempregada. teve propostas para ir para o Brasil ou França juntar-se a familiares. Não foi. Assim como não foi para uma casa na cidade que lhe deixou a mãe, falecida ainda em boa idade vitima de doença grave, pois a que tem, velhinha lá na terra, tem terreno. Recusa ambas por causa dos seus amores. Sem rancores. Sem arrependimentos. Na casa da cidade cuida do irmão, ser humano limitado por deficiencia e que dependerá dela em cada dia a dia.
   A atleta foi ao Banco e levantou os ultimos duzentos e poucos euros que lhe restavam numa conta poupança. Com esse dinheiro vai pagar a esterilização do novo membro da matilha.
   Não lhe cai uma lágrima da cara. Não lhe coram as maçãs do rosto ja de si tipicas rosadas. Não tem pena de si própria. Encolhe os ombros mas com carinho, como quem diz que que outra atitude haveria de ter, que os bichinhos aparecem e ficam, os seis canitos agora sete.... e os nove gatos.
   Pensa na sua vida e nas suas dificuldades. Sabe a sua realidade e a do mundo que a rodeia. Não é louca nem desmesurada. Apenas tem um coração tão maior que o seu próprio corpo, maior que toda a coragem de quem amanhã começará um novo dia, esse sem dinheiro algum sim, mas com a alma tão acalorada por toda a recompensa que a cadelita lhe acalora.
   Uma certeza ela tem: ainda está em competição, mas a maior das medalhas já é sua.
 

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