sábado, 16 de agosto de 2014

Comboio novo

 O vento continua por estes dias. Já chateia tanto como falar dele.
 Mas se na véspera abortei a volta por achar que não estavam reunidas condições, hoje estava decidido a sair.
  O plano? apanhar o tgv em Azeitão. Matava assim dois coelhos: matava saudades pois à muito que não o apanhava e sempre ficava mais protegido do vento.
  Dito e feito.
  Quinze minutos depois das nove e lá vinha ele. Depois foi só deixar ir no habitual ritmo inicial.
  Mas algo de inédito estava para acontecer. Quando menos esperava, o tgv não virou para o Pinhal Novo. Também não virou mais à frente para Rio Frio.
  O maquinista enlouquecera ou finalmente enjoara o sempre habitual percurso. No grupo algumas bocas do tipo "mas onde vamos? alguém se esqueceu de algo em casa?" ou " vamos almoçar a casa de quem?" ou "mas que raio é isto hoje?" e por aí fora. As bocas agravaram-se quando o estado do piso piorou lá para os lados de Lagamessas numa pequena passagem.
   Quem se rejubilava com este novo traçado eram os habitantes das pequenas localidades rasgadas por este enxame de pedaleiros. Era ver as cabecinhas nas beiras de estrada a acompanharem-nos até perder de vista, principalmente dos mais pequerruchos aos colos das mamãs apontando e sorrindo, como se de um carrocel se tratasse.
    Alguns populares aplaudiam, outros incentivavam gritando. Os automobilistas que vinham em sentido contrário buzinavam e acenavam. Parecia a Volta a Portugal.
   Três senhoras de idade e peso já avançados terão mesmo ganho o dia ao ouvirem o assobio piropo que se lança às miudas jeitosas e não evitaram a gargalhada, respondendo com acenos veementes.
   Isto hoje era um tgv regional.
   A páginas tantas o ritmo intensificou. Muitos começaram a ficar para trás ou mesmo simplesmente abandonaram. Seguia nos estições que nada me agradam principalmente por causa do joelho.
   Começava a interrogar-me para onde seguia este comboio hoje e até onde aguentariam as minhas forças principalmente por falta de combustivel. Sim, por incrivel que pareça esquecera toda e qualquer alimentação em casa e um bolicao que agora tem um outro qualquer nome foi tudo o que consegui encontrar ainda a caminho de Azeitão. Estava portanto condenado. Restava saber quanta energia produziria esse mini pão de chocolate a boiar num estomago de agua.
   Já meio sem saber onde andava chegamos a um cruzamento: Poceirão para a esquerda, Montijo para a direita. E equanto hesito para perceber as horas e as forças, perco o grupo. O local era a recta que passa por Rio Frio.
    Ainda ferrei punhos e dentes numa tentativa desesperada para os apanhar, rolando a bons 35km\h mas era inutil. Jamais os apanharia novamente.
     Também já iam sendo horas de voltar e as pernas começavam a pagar o preço.

    No final ao chegar, uma invulgar dor nos musculos do tronco superior da perna esquerda. Mas uma dor intensa e que teimosamente não queria passar.

    Que bela manhã. Valeu a pena. Ganhei uma volta nova pois o traçado está interessante, passando por sitios onde habitualmente nao se passa, tem bons pisos na sua maioria e pouco transito.

   Amanhã há mais? duvido. Parece-me que as pernas começaram a perguntar por férias..


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